O negro que morreu pela boca.




A data de 28 de agosto passou despercebida para a grande maioria das pessoas. Acredito que para qualquer um que esteja lendo este post neste momento também. Infelizmente. De forma tardia, dois meses depois da data, venho relembrar a trajetória de Emmett Louis Till. “Emmett quem?”, você pergunta. Emmett Louis Till, o garoto negro norte-americano, de apenas 14 anos, assassinado brutalmente em 28 de agosto de 1955 no estado de Mississippi, Estados Unidos, apenas por ousar assoviar para uma mulher branca.

A história ocorreu da seguinte forma: Emmett, recém vindo de Illinois, seu estado natal, saiu no dia 24 de agosto de 1955 com seus amigos e, ao saírem de uma loja, o rapaz assoviou ao ver Carolyn Bryant, uma mulher branca e casada passar, dizendo posteriormente “Bye, baby”. Carolyn ficou furiosa e saiu em disparada com seu carro. Os jovens, temendo que ela voltasse com uma pistola, foram embora correndo.

O caso rapidamente se espalhou pelo bairro e, ao chegar de uma viagem, Roy Bryant, marido de Carolyn, ficou sabendo do fato. Chamou então seu meio-irmão, J. W. Milam, com o intuito de, nas suas palavras, “dar uma lição nesse moleque”.

Roy e Milam então, no dia 27, seqüestraram Emmett e o levaram para o meio de uma plantação em Sunflower County. Lá, ambos mataram de forma desumana e bárbara o jovem garoto: ele foi linchado, executado, teve seu pescoço enrolado com arame farpado e seu olho arrancado antes de seu corpo ser jogado no Rio Tallahatchie. O corpo de Emmett ficou desaparecido por três dias até ser encontrado por dois pescadores.

No seu funeral, “Mamma” Till insistiu para que o caixão, até então lacrado, devido ao corpo de Emmett estar completamente desfigurado, fosse aberto. Depois de muita insistência, ela conseguiu abri-lo para ver o seu filho pela última vez e ordenou para que a tampa não fosse fechada, a fim de que todas as 50000 pessoas que comparecem ao velório vissem a forma selvagem utilizada pelos assassinos para matar o garoto e a situação com que seu corpo se encontrava.

Mas o pior ainda estaria por vir. Roy e Milam foram absolvidos do crime pelo júri responsável por julgar o caso, numa sessão que durou apenas 67 minutos. E mais grave ainda: após a absolvição, ambos confessaram para a revista Look Magazine que foram de fato os assassinos do garoto, cientes de que não poderiam ser julgados de novo, de acordo com os princípios da Constituição de seu Estado.

Essa série interminável de absurdos desencadeou reações na sociedade americana. A revolta diante da morte brutal e da absolvição dos covardes assassinos era exposta freqüentemente em artigos de jornais e revistas. Vale lembrar que, naquela época – hoje ainda, mas antigamente mais – a intolerância racial contra os negros nos EUA era existente em alto grau e a segregação corria solta por lá. Assim, a morte de Emmett foi uma das peças chaves para dar energia ao Movimento pelos Direitos Civis Americanos, uma das principais conquistas de um grupo organizado no século XX.

A saga fatal de Emmett Louis Till foi retratada de forma brilhante num poema de Vinicius de Moraes. O saudoso poetinha conta (e canta), de forma belíssima, a tragédia em torno desse jovem de 14 anos que, não sabia, mas ao morrer se tornou um mártir da sociedade americana.

Perder um filho dessa forma... Pobre Mamma Till...

Blues Para Emmett (Vinícius de Moraes)

Os assassinos de Emmet
– Poor Mamma Till!
Chegaram sem avisar
– Poor Mamma Till!
Mascando cacos de vidro
– Poor Mamma Till!
Com suas caras de cal.

Os assassinos de Emmet
– Poor Mamma Till!
Entraram sem dizer nada
– Poor Mamma Till!
Com seu hálito de couro
– Poor Mamma Till!
E seus olhos de punhal.

– I hate to see that evenin' sun go down...

Os assassinos de Emmet
– Poor Mamma Till!
Quando o viram ajoelhado
– Poor Mamma Till!
Descarregaram-lhe em cima
– Poor Mamma Till!
O fogo de suas armas.

Enquanto contendo o orgasmo

– Poor Mamma Till!
A mulher faz um guisado
– Poor Mamma Till!
Para esperar o marido
– Poor Mamma Till!
Que a seu mando foi vingá-la.

– Oh, how I hate to see that evenin' sun go down...

Emmet Louis Till, homem negro que foi morto por assobiar pra uma branca

Um comentário:

  1. Difícil imaginar mas lembro, quando criança a televisão em preto e branco mostrava no "Repórter Esso", a luta nos negros para entrar em uma Faculdade. Eu tinha uns seis anos de idade e já me espantava com isso. Um dia o meu pai falou em um grupo chamado Klukuscan, eles usavam roupas (tipo túnica) brancas e uma espécie de capuz para esconder a cara e atacarem os negros, geralmente, à noite, como fazem os criminosos. Embora no Brasil houvesse um tipo diferente de racismo que não nos tornava melhores, lembro que nas Escolas Públicas, as crianças negras eram colocadas no fundo da classe e ficava por isso mesmo, ninguém sequer questionava esse fato. O mundo "evoluiu", mas o preconceito velado continua. É uma falta de humanidade que não pode se perpetuar. Sempre procurei passar isso para os meus filhos. É difícil porque os próprios amigos davam "pilha"... Impensável ver uma cena igual a essa nos dias de hoje. Há um tempo atrás assisti com eles um doc. "Mickey Olhos Azuis". É muito bom para você se colocar no lugar do outro.

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Ednardo cd´s

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O negro que morreu pela boca.




A data de 28 de agosto passou despercebida para a grande maioria das pessoas. Acredito que para qualquer um que esteja lendo este post neste momento também. Infelizmente. De forma tardia, dois meses depois da data, venho relembrar a trajetória de Emmett Louis Till. “Emmett quem?”, você pergunta. Emmett Louis Till, o garoto negro norte-americano, de apenas 14 anos, assassinado brutalmente em 28 de agosto de 1955 no estado de Mississippi, Estados Unidos, apenas por ousar assoviar para uma mulher branca.

A história ocorreu da seguinte forma: Emmett, recém vindo de Illinois, seu estado natal, saiu no dia 24 de agosto de 1955 com seus amigos e, ao saírem de uma loja, o rapaz assoviou ao ver Carolyn Bryant, uma mulher branca e casada passar, dizendo posteriormente “Bye, baby”. Carolyn ficou furiosa e saiu em disparada com seu carro. Os jovens, temendo que ela voltasse com uma pistola, foram embora correndo.

O caso rapidamente se espalhou pelo bairro e, ao chegar de uma viagem, Roy Bryant, marido de Carolyn, ficou sabendo do fato. Chamou então seu meio-irmão, J. W. Milam, com o intuito de, nas suas palavras, “dar uma lição nesse moleque”.

Roy e Milam então, no dia 27, seqüestraram Emmett e o levaram para o meio de uma plantação em Sunflower County. Lá, ambos mataram de forma desumana e bárbara o jovem garoto: ele foi linchado, executado, teve seu pescoço enrolado com arame farpado e seu olho arrancado antes de seu corpo ser jogado no Rio Tallahatchie. O corpo de Emmett ficou desaparecido por três dias até ser encontrado por dois pescadores.

No seu funeral, “Mamma” Till insistiu para que o caixão, até então lacrado, devido ao corpo de Emmett estar completamente desfigurado, fosse aberto. Depois de muita insistência, ela conseguiu abri-lo para ver o seu filho pela última vez e ordenou para que a tampa não fosse fechada, a fim de que todas as 50000 pessoas que comparecem ao velório vissem a forma selvagem utilizada pelos assassinos para matar o garoto e a situação com que seu corpo se encontrava.

Mas o pior ainda estaria por vir. Roy e Milam foram absolvidos do crime pelo júri responsável por julgar o caso, numa sessão que durou apenas 67 minutos. E mais grave ainda: após a absolvição, ambos confessaram para a revista Look Magazine que foram de fato os assassinos do garoto, cientes de que não poderiam ser julgados de novo, de acordo com os princípios da Constituição de seu Estado.

Essa série interminável de absurdos desencadeou reações na sociedade americana. A revolta diante da morte brutal e da absolvição dos covardes assassinos era exposta freqüentemente em artigos de jornais e revistas. Vale lembrar que, naquela época – hoje ainda, mas antigamente mais – a intolerância racial contra os negros nos EUA era existente em alto grau e a segregação corria solta por lá. Assim, a morte de Emmett foi uma das peças chaves para dar energia ao Movimento pelos Direitos Civis Americanos, uma das principais conquistas de um grupo organizado no século XX.

A saga fatal de Emmett Louis Till foi retratada de forma brilhante num poema de Vinicius de Moraes. O saudoso poetinha conta (e canta), de forma belíssima, a tragédia em torno desse jovem de 14 anos que, não sabia, mas ao morrer se tornou um mártir da sociedade americana.

Perder um filho dessa forma... Pobre Mamma Till...

Blues Para Emmett (Vinícius de Moraes)

Os assassinos de Emmet
– Poor Mamma Till!
Chegaram sem avisar
– Poor Mamma Till!
Mascando cacos de vidro
– Poor Mamma Till!
Com suas caras de cal.

Os assassinos de Emmet
– Poor Mamma Till!
Entraram sem dizer nada
– Poor Mamma Till!
Com seu hálito de couro
– Poor Mamma Till!
E seus olhos de punhal.

– I hate to see that evenin' sun go down...

Os assassinos de Emmet
– Poor Mamma Till!
Quando o viram ajoelhado
– Poor Mamma Till!
Descarregaram-lhe em cima
– Poor Mamma Till!
O fogo de suas armas.

Enquanto contendo o orgasmo

– Poor Mamma Till!
A mulher faz um guisado
– Poor Mamma Till!
Para esperar o marido
– Poor Mamma Till!
Que a seu mando foi vingá-la.

– Oh, how I hate to see that evenin' sun go down...

Emmet Louis Till, homem negro que foi morto por assobiar pra uma branca

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